Cemitério da Saudade

Documentário:

Histórico sobre os primeiros cemitérios e enterramentos de Piracicaba:


    Equipamento de primeira necessidade em qualquer civilização, o cemitério sempre esteve ligado à religião católica, no território brasileiro. Dependendo da classe social, os homens livres, quando mortos, eram sepultados dentro ou no adro das igrejas. Já os escravos eram enterrados nas fazendas onde trabalhavam ou abandonados nas proximidades de uma Santa Casa de Misericórdia (Cachioni, 2002). 
    A antiga prática dos enterramentos dentro das igrejas foi considerada prejudicial para a saúde pública, e uma legislação determinava que fossem construídos cemitérios em locais afastados da área do perímetro urbano, no entanto a população ainda insistia no sepultamento dentro das igrejas (ou nos seus adros), por considerá-los áreas santificadas. 
    Todavia, em Constituição, as obras de construção de uma nova matriz católica, as quais circundando a edificação primitiva, inviabilizavam a referida prática, o que tornava fundamental a construção de um cemitério (Cachioni, 2002).
    Em 1828 o governo determinou que os cemitérios fossem transferidos para locais mais apropriados, a bem da saúde pública (Carradore, 1989). 
    Apesar da legislação não permitir, a teimosia do povo ainda mantinha a prática dos sepultamentos dentro da Matriz de Santo Antônio, mesmo depois da construção de um cemitério no Largo da Boa Vista. Cemitério este que, em poucos anos, se deteriorou por falta de conservação (Cachioni, 2002).
    Somente em 1849 o cemitério da vila foi definitivamente cercado. A partir deste momento, a população passou a ter menos reservas em sepultar seus  mortos naquele sítio, que até então, não tinha sequer recebido a benção da igreja (Carradore, 1989). Saneamento e salubridade dificilmente eram encontrados nas vilas e cidades imperiais. O Cemitério público, localizado no Largo da Boa Vista, causava enorme constrangimento pelas queixas dos moradores das redondezas, pois vivia a exalar ‘hum hálito pestífero’, a tal ponto, que a 
Câmara exigiu do Fiscal que tomasse medidas sérias para  ‘mais bem enterrar os cadáveres’... (Perecin, 1989). 


Cemitério da Saudade:
 
 
O Cemitério da Saudade de Piracicaba foi o terceiro na cidade a ser construido e foi formado inicialmente como um cemitério protestante. O cemitério foi solicitado porque os protestantes, no caso, luteranos, não podiam ser sepultados em cemitérios católicos. Havia em Piracicaba dois cemitérios Católicos: o primeiro ficava localizado na Praça Tibiriçá, onde atualmente se encontra a E.E. ‘Morais Barros’ e o segundo, onde se encontra o Colégio Dom Bosco-Assunção, servia apenas  aos padres e freiras. Theodore Loose foi um dos primeiros a serem sepultados no cemitério da comunidade, em 1869. 
    Muitos norte-americanos (batistas, metodistas e presbiterianos), vindos da Guerra da Secessão, também enterraram seus mortos nesse cemitério, que foi de uso exclusivo da comunidade alemã até tornar-se municipal (público) em 2 de dezembro de 1872, com o sepultamento da escrava Gertrudes.  Para tanto foi construído um muro que separava os Protestantes dos Católicos. Também neste ano foi colocado, no muro da Avenida Independência, frente à Rua Moraes Barros um portão de ferro confeccionado pelo ferreiro 
Joaquim Lordello (Cachioni, 2002). 
    Reformado no início do século XX, suas ruas foram em boa parte alteradas, mantendo-se alguns túmulos nas disposições antigas, como no caso do Padre Galvão.  Em 1906 o vereador Francisco Morato propôs a construção de um portal de entrada no Cemitério Municipal, que acabou trazendo a demolição do muro que separava os mortos de diferentes religiões. Foi executada uma avenida central e um portal de entrada, com características neoclássicas e anjos em relevo, projetado por Serafino Corso e construído por Carlos 
Zanotta (Setto, 1996). 
    Apesar de popularmente se dizer que pode ter sido inspirado no portal do Cemitério de Gênova, na Itália, é difícil a comparação, tendo em vista que o importante portal monumental do Cemitério Staglieno não apresenta semelhanças formais com o portal piracicabano, muito menos em tamanho ou proporções. O  Portal do Cemitério da Saudade (Fig. 01, 02 e 03) é uma construção de caráter monumental, com inspiração no ‘Arco do Triunfo’ clássico, tendo proporções bastante acanhadas se comparado ao congênere genovês. Na entrada há quatro figuras em relevo representando serafins e querubins, todas diferentes entre si. O portão de ferro fundido foi trazido da Alemanha pelo arquiteto Serafino Corso e a epígrafe OMNES SIMILES SUMUS foi pintada em 1941 pelo artista local Joca Adâmoli, atendendo ao pedido do Prefeito José Vizioli. A liberdade estética, com a qual foram usados os elementos clássicos, insere o monumento no Ecletismo.


Fig. 01 - Portal do Cemitério da Saudade. Acervo IPLAP.
Fig. 02 - Portal do Cemitério da Saudade no primeiro quartel do século XX. Arquivo IHGP.
Fig. 03: Situação atual do Portal do Cemitério Municipal da Saudade, após obras de recuperação.

   
A denominação Cemitério Municipal da Saudade foi feita por indicação do vereador Oscar Manoel Schiavon, em 12 de junho de 1953. O prefeito Aquilino José Pacheco montou a sua atual estrutura, ordenando os túmulos, colocando guias e sarjetas, drenando as águas pluviais que causavam erosão e infiltrações nas sepulturas. O Cemitério da Saudade ocupa área de 145 mil metros quadrados, tem 20 mil túmulos, 90 quadras,1 avenida, 12 ruas e 11 travessas (de A a K), guarda 124 mil restos mortais e realiza aproximadamente mil sepultamentos por ano (Cachioni, 2002).

Fig. 04 - Exemplo de obra de arte encontrada no Cemitério da Saudade:Foto: Paulo Renato.
Fig. 05 - Exemplo de jazigo encontrado no Cemitério da Saudade.Foto: Paulo Renato.


BIBLIOGRAFIA:

Acervo IPLAP.

CARRADORE, Hugo P. As Igrejas e Cemitérios de Piracicaba. In:  Jornal de Piracicaba. 
Caderno Especial, 1°/08/1989. 

CACHIONI, Marcelo.  Arquitetura Eclética na Cidade de Piracicaba. Dissertação de 

Mestrado. Campinas: FAU PUC Campinas, 2002. 

PERECIN, Marly T. G. A Síntese Urbana (1882-1930).Piracicaba: Shekinah, 1989. 


Fotos e Vídeos extras:




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