Bairro Carioba



Tudo começou em 1875, quando foi inaugurada a Fábrica de Tecidos Carioba pelos irmãos Antônio e Augusto de Souza Queiroz em sociedade com o engenheiro americano William Pultney Ralston, para fabricar tecidos para vestir escravos e embalagens de café e cereal.
Passado alguns anos, os ingleses Jorge e Clemente Wilmot adquirem a fábrica. Entretanto, não demorou para que ela fosse fechada e abandonada, em 1896, por questões de dividas com Banco do Brasil.
Foi então que, em 1901, o comendador Franz Müller, que já morava em São Paulo, tem notícias de que uma fábrica de tecidos localizada próxima a Villa Americana estava à venda. Em pouco tempo ele se junta ao irmão Hermann e ao inglês Rawlinson que compram a firma e assumem a direção.
Mas só no ano seguinte que a fábrica voltou a funcionar, pois devido ao abandono, o mato havia crescido por entre as máquinas. É nesse ponto que Carioba começa a ver um futuro próspero.

Com a administração do Comendador, baseada no estilo europeu, foi criada diversas oportunidades de emprego, principalmente para imigrantes, de lazer, educação e diversidade cultural. Logo em 1907, Franz adquire a Fazenda Salto Grande , onde ele constrói uma Usina Hidrelétrica no rio Atibaia. Em 1911, a usina já era capaz de fornecer energia para o Carioba, Americana, Santa Bárbara D’Oeste, Cosmópolis e Rebouças (hoje conhecida como Sumaré). Porém, com a grande crise de 1929, a Cia. Paulista De Força e Luz planejava construir uma usina de maior capacidade para interligar a energia às redes estaduais. Os planos se cumprem e a CPFL adquire a pequena usina de Salto Grande e a amplia.
Com o objetivo de ter energia própria mais uma vez, em 1934, Müller constrói a Usina de Carioba. Nessa época, o volume de água do ribeirão Quilombo era suficiente para movimentar as fábricas e o bairro, porém, com o progresso industrial e residencial e a poluição do Ribeirão, a Usina de Carioba chegou ao ponto de se tornar inviável. Hoje ela ainda existe e é aberta para visitação.





Aos moradores do querido bairro nada faltava. Era cedido a eles a casa com energia elétrica e rede de água e esgoto sem nenhuma cobrança. O leite era vendido a preço simbólico, muito mais baixo do que em armazéns da cidade. As ruas – as primeiras a serem asfaltadas na América Latina – eram arborizadas e iluminadas. Como nos condomínios de hoje, Carioba também possuía uma cancela para que, quem entrasse em suas terras se identificasse para a segurança dos habitantes, que nem precisavam trancar suas casas de belos jardins e cercas bem alinhadas.


O bairro também contava com um hotel, um armazém de secos e molhados, conhecido como empório e um bar que era como uma pequena mercearia. Havia também a Sociedade Mútuo-Socorro que, formada pelos operários, dava assistência médico-hospitalar. Além disso, possuía também duas barbearias, padaria, farmácia, açougue, alfaiataria, loja de tecidos, sapataria, coreto, conjunto musical “Jazz Band”, capela, presépio, grupo escolar, serviço dentário, Clube Recreativo Esportivo Carioba com uma riquíssima biblioteca, Clube de regatas e natação Parque São Francisco, campo de futebol, sala de cinema para quase 400 pessoas, quitanda, banca de revistas e leiteria.


Abaixo temos fotos que contam mais sobre o bairro e as diversões dos moradores:










Carioba sempre esteve à frente do seu tempo. A família Müller trouxe muitos benefícios não só para o bairro, mas também para a economia local. Sempre colocando a educação em primeiro lugar, fez com que o crescimento industrial atingisse grandes proporções. Porém, com a eclosão da II Guerra Mundial, em 1939, a querida família Müller foi apartada da industria por restrição imposta ao governo a descendentes de alemaes, italianos e japoneses. Foi nesse instante que o céu azul de Carioba começou a escurecer. Todo o patrimônio dos Müller foram vendidos ao Grupo J.J Abdalla, iniciando assim o extenso e árduo processo de decadência da indústria e do bairro.




O pedido de tombamento junto ao Condephaat (Conselho de Defesa do Patrimônio Histórico, Arqueológico, Artístico e Turístico do Estado de São Paulo) foi arquivado nos anos 80, e, por conta disso, grande parte dos prédios foram demolidos, principalmente os da vila operária. Hoje, as construções que sobraram, pertencem ao poder público e a Casa de Hermann Müller é sede da cultura de Americana, onde acontece diversos eventos.  
O nosso “Espírito do Lugar” é o senhor Hélio Travaglia e sua esposa, no documentário podemos conferir toda a sua vivência no amado bairro e a saudade que sente desse período de ouro que hoje só está na lembrança e nas fotos guardadas com carinho. Inspirados pelo livro de Antônio Bertalia, Recordações de Carioba,  o qual tiramos grande parte das informações e fotografias aqui já mostradas, resolvemos montar um álbum de memórias para o nosso belíssimo casal.

Ao visitarmos o local e ao pesquisarmos mais sobre a sua historia, também sentimos o espírito do lugar, e, de certa forma, fizemos parte, por um breve momento, de tudo o que aconteceu e acontece ali. Pensando dessa forma, por que não termos também um álbum de memórias?! Pois bem, aqui está ele.


(Fotos e informações retiradas do livro Recordações de Carioba, de Antonio Bertalia, editora Caminho)


Apoio:
- Instituto de Pesquisas e Planejamento de Piracicaba - IPPLAP
- Faculdade de Comunicação Social - Facom Unimep
- Museu da Imagem e do Som de Piracicaba - MISP
- Secretaria Municipal de Ação Cultural - SEMAC
- TV Câmara de Piracicaba
- TV USP
    
Agradecimentos:
Marcelo Cachioni
 Marisa Libardi
 Raul Rozados
Rosangela Camolese