Colégio Piracicabano


UMA HISTÓRIA DE REVOLUÇÃO E GLÓRIA

Hoje, quem passa pela Rua Rangel Pestana, 762, no centro de Piracicaba, mal sabe que está diante de um dos grandes marcos da história da educação no Brasil: O Colégio Piracicabano.
Fundado em 1881, por Miss Martha Watts, a instituição passou a ser, ao longo desse século, modelo da educação Metodista e ponto de referência para aqueles que buscavam entender, em suas raízes, o processo de educação inovador e revolucionário que foi apresentado com seu surgimento. À época, Martha Watts enfrentou sérias dificuldades políticas para se instalar aqui, visto que o Metodismo ainda era mal visto pela sociedade extremante católica e conservadora. E pior, numa sociedade extremamente patriarcal, uma mulher no comando da educação estremeceu as bases da então pequena e recém-formada Piracicaba. E foi isso que despertou interesse e paixão pelo assunto. Falar sobre a escolha do tema, para o grupo, é, de certo modo, complicado e ao mesmo tempo muito simples. É simples pelo fato de que, hoje, na nossa sociedade, vivemos aquilo que foi idealizado há muito tempo. Vivemos em uma época de mais igualdade de direitos entre homens e mulheres. Vivemos um tempo de liberdade acadêmica e religiosa. Liberdade, essa, que tanto foi buscada por Martha Watts. É difícil, por outro lado, pois podemos pecar ao contar essa história tão complexa, com enredos quase místicos, de tão inovadores. É difícil, pois fazer jus a uma história como a de Martha Watts requer muita pesquisa e preparação. Mas nos sentíamos na obrigação de fazê-lo. Nossos princípios nos impulsionavam a reviver esta memória, esta luta e paixão. Seria como, digamos, questão de honra. E toda esta história, ou quase toda, aconteceu lá, no Colégio Piracicabano, que teve seu edifício principal construído em 1881, quando Piracicaba ainda era uma pequena vila. Pensar um documentário sobre o tema realmente nos causou certo espanto, afinal de contas, quem poderia nos passar um real sentimento em relação ao Colégio? Quem contaria uma história de amor vivida naquele lugar? Quem teria uma história de valer a pena? De fato, nossa expectativa ao escolhê-lo como objeto de estudo foi trazer ao cotidiano dos piracicabanos a importância e valia desse espaço. Foi reviver um pouco das revoluções e emoções que por ali passaram. Sentíamos na obrigação de fazê-lo, afinal de contas estudamos e, ao final do curso, teremos dedicado quatro anos inteiros a uma instituição que surgiu do Colégio, que originou o Instituto Educacional Piracicabano, e que, por sua vez, deu origem a esta universidade, a UNIMEP. São cento e trinta e um anos de história, milhões de sentimentos, emoções ímpares, tudo isso para ser contado em apenas seis minutos corridos, e um blog, que pode ser visitado em www.oespiritodolugar.blogspot.com. O primeiro passo que decidimos tomar foi visitar o espaço, conhecer os atuais responsáveis pela manutenção, coordenação e direção, para, a partir daí, darmos início à escolha dos entrevistados, cenários, e todo o restante do trabalho que desenvolveríamos. Fundamentalmente, os entrevistados deveriam realmente ter vivido ali dentro, experiências e histórias fantásticas. Uma pessoa cuja história está entrelaçada com a do colégio. Após diversas entrevistas frutos de pesquisas e indicações do professor orientador, Fabiano Pereira, chegamos à conclusão de que o primeiro passo já estava dado. Mirce Lavoura, Vera Lígia Carvalho e Marcelo Cachioni foram escolhidos, e se dispuseram a nos ajudar nesta empreitada. Mirce e Vera Lígia, respectivamente mãe e filha, passaram mais de 30 anos vinculadas à instituição, morando na mesma, inclusive. Não haveria em nenhum outro lugar pessoas mais qualificadas para nos contar o que o Colégio Piracicabano realmente representa. Para o grupo, foi uma satisfação a participação de ambas. Podemos dizer que, ao término das gravações, nossa visão sobre o lugar havia se transformado. Não enxergávamos mais apenas um colégio e um centro cultural. As histórias e sentimentos vivenciados pelas entrevistadas, que nos foram transmitidos através de seus depoimentos, maximizaram nossa admiração pela história, pela trajetória e pela dedicação de Martha Watts ao Piracicabano. Na tangência acadêmica, a valorização moral e estética que tínhamos em relação ao colégio, tanto quanto com a UNIMEP, subitamente deixaram de lado a impessoalidade para se transformar em um sentimento de carinho, de proximidade. Entendemos que o ensino e a filosofia lecionada até hoje no colégio, transcende a formação acadêmica, e passa a ser, também, a formação moral de cada aluno ali presente. Já Marcelo Cachioni, com toda a sua experiência e vivência ali, afinal de contas foi aluno do Piracicabano, nos falou da emoção e do privilégio de ser um dos responsáveis pelo projeto de revitalização do prédio principal do colégio, onde hoje funciona o Centro Cultural Martha Watts. Cachioni, dotado de todo know how, contou como foi o projeto de pré-restauração, quais elementos foram utilizados e como tudo isso se procedeu. O mais importante, segundo o mesmo, foi preservar a memória do local, tentando ser o mais fiel possível àquilo que se viveu. As histórias estavam enraizadas naquelas paredes, colunas, imagens, e tudo aquilo deveria ser preservado.E de fato foram. Os 131 anos de colégio estão muito bem preservados no interior do Centro Cultural. E, para nós, aquelas peças deixaram de ser apenas objetos, tornaram-se materializações dos mais diversos enredos narrados ao logo de todos esses anos. Após o processo de entrevista, outra dificuldade com a qual nos deparamos foi a seleção e edição dos materiais. Tínhamos apenas seis minutos de vídeo para fazê-lo, e algo deveria ficar de fora, não por ser menos importante – mas sim por ser mais técnico -, e foi essa motivação que nos levou a publicarmos a entrevista na íntegra com Cachioni somente no blog. Sua fala foi concisa com aquilo que precisávamos, no entanto, apostamos na simbologia ao unir mãe e filha, em um mesmo vídeo, falando de um mesmo lugar, tão significante para ambas. Os trechos das entrevistas inseridas no documentário foram cuidadosamente separados. Neles, a emoção deveria estar à flor da pele, e os sentimentos deveriam emanar do olhar das entrevistadas, afinal de contas, nosso principal objetivo foi buscar o tema proposto: “O Espírito do Lugar”. Assistindo ao documentário pronto, após o extenso trabalho de edição, concluímos que, para que o Piracicabano seja valorizado e reconhecido como se deve, há ainda muito a se fazer. Hoje, quem passa pelo colégio mal sabe de sua história, e acredita estar vendo apenas um amontoado de tijolos, e no lado oposto da parede, apenas alunos comuns. Tivemos a oportunidade de perceber justamente o contrário. O Colégio Piracicabano é um marco histórico da cidade de Piracicaba, é um marco histórico para as conquistas feministas no Brasil e, além de tudo isso, ainda é uma inesgotável fonte de conhecimento, da qual emana o mais puro desejo de educar.




COLÉGIO PIRACICABANO - HISTÓRIA




O Colégio Piracicabano tem uma antiga e bela história em Piracicaba. Ele cresceu com a cidade. Em 1881, quando aqui se instalou o Colégio, Piracicaba era uma pequena vila, um amontoado de casas simples, ruas de terra onde transitavam carroças e carros de boi iluminadas por lampiões à querosene. O Brasil era governado pelo Imperador D. Pedro II e a escravidão não havia sido abolida. Entretanto, um grupo de pessoas progressistas já trabalhava aqui, pela libertação dos escravos, pela implantação da República e pela criação de uma escola moderna para a juventude. Esse grupo era liderado pelos irmãos Manoel de Moraes Barros e Prudente de Moraes, ambos advogados e políticos influentes na região.


Os irmãos Moraes estabeleceram contato com os imigrantes norte-americanos de Santa Bárbara D'Oeste. Entre eles havia um pastor metodista Rev. Newmann. Desta amizade surgiu a idéia de criar em Piracicaba uma escola moderna, aos moldes das escolas norte-americanas.
Com o apoio político dos irmãos Moraes, em 13 de Setembro de 1881 a missionária americana Martha Watts abriu as portas da nova escola: "O Colégio Piracicabano".
A construção do prédio próprio - "Edifício Principal" - na esquina das ruas Boa Morte e D. Pedro II ficou pronta em 1884. O belo casarão de tijolo à vista e telhas francesas diante do acanhado casario da vila na época, convenceu o povo de que a escola viera para ficar e foi um sucesso.
O Colégio Piracicabano foi construído e sustentado pelas mulheres metodistas norte-americanas. O objetivo principal dessas mulheres era promover a educação feminina no Brasil. Por essa razão, até a década de 30 só havia internato para moças. A educação para meninos era em regime de externato. Somente em 1934 criou-se o internato masculino.
O currículo do Colégio Piracicabano oferecia desde os primeiros anos um variado elenco de disciplinas, estando muito à frente dos currículos das escolas da época.
Logo após a Proclamação da República, Prudente de Moraes foi nomeado governador do Estado de São Paulo e implantou a reforma do ensino público tendo como modelo o sistema de ensino do Colégio Piracicabano.


Os anos se passaram e a escola metodista cresceu e evoluiu com a cidade que deixou de ser uma vila pobre para tornar-se um núcleo importante do desenvolvimento da região.
Vários cursos foram criados durante a história do "Piracicabano" visando atender às necessidades educacionais da região e o Colégio deixou de ser só Colégio, passando a abrigar cursos superiores em 1964 e a Universidade Metodista de Piracicaba em 1975, hoje, com cerca de 10.000 alunos.


Essa longa e bela história começou em 1881 com uma professora: Miss Martha Watts e apenas uma aluna: Maria Escobar.




MARTHA WATTS


Martha Hite Watts (Bardstown, 13 de Fevereiro de 1845 — Louisville, 10 de Janeiro de 1910) foi uma  missionária e educadora metodista norte-americana.
Watts passou vários anos no Brasil, onde ficou conhecida como "semeadora de escolas", depois de fundar instituições educacionais metodistas, entre as quais estão:
  • o Colégio Piracicabano, em Piracicaba, inaugurado em 13 de Setembro de 1881; 
  • o Colégio Americano, em Petrópolis;
  • o Colégio Izabela Hendrix, em Belo Horizonte;
O Colégio Piracicabano foi a primeira escola Metodista fundada no país e, na época, possuía mais de 60 alunas. Hoje, é o Centro Cultural Martha Watts, além de ser a pedra fundamental do Instituto Educacional Piracicabano (IEP), entidade mantenedora da Universidade Metodista de Piracicaba (UNIMEP).
No Piraciabano, Martha foi diretora nos períodos de 1881 a 1886, 1888 a 1892 e 1894 a 1895.




CENTRO CULTURAL MARTHA WATTS


Inaugurado em 2003 e localizado no prédio que abriga o Colégio Piracicabano, o Centro Cultural Martha Watts foi batizado com o nome da Fundadora do Colégio. É um espaço voltado ás atividades culturais em seus variados aspectos, de pesquisa e preservação de acervos históricos referentes à cidade e região. No centro cultural está situado o Museu Prof. Jair de Araújo Lopes, onde está o acervo relacionado com a história da Instituição, desde a fundação do Colégio Piracicabano à Universidade, incluindo fotos, mobiliário, documentos, objetos de época, etc. e o CEPEME - Centro de Pesquisa em Metodismo e Educação e o Memorial das Escolas Metodistas.




RESTAURAÇÃO DO CENTRO CULTURAL MARTHA WATTS


O ENTREVISTADO

MARCELO CACHIONI                

Arquiteto e professor renomado em Piracicaba e região, Marcelo Cachioni foi o responsável pela restauração da parte interna do Centro Cultural Martha Watts. Também ex-aluno do Colégio Piracicabano, Cachioni, com muita generosidade, aceitou participar do nosso trabalho e contar um pouco sobre processo de restauração do centro.
Confiram a entrevista na íntegra com Marcelo Cachioni:





TRABALHO FINAL: O DOCUMENTÁRIO

As histórias só existem pois existe quem as conte. E a história de um lugar fica ainda mais encantadora quando contada por quem o ama.
É assim que Vó Mirce e Vera Lígia, mãe e filha, respectivamente, nos contarão a história de vida e amor com o Colégio Piracicabano.
É possível sentir em cada palavra dita o espírito do local, como se o mesmo ganhasse vida e se transformasse em algo tangível. O sentimento emana de forma tão natural que nos deixa a impressão de ser algo familiar há muito tempo.
Mais que um vídeo, uma intertextualidade entre o passado e o presente.


Confiram nosso trabalho finalizado:




AS ENTREVISTADAS

VÓ MIRCE

Sabem aquela avó que todos gostariam de ter? Essa é a Vó Mirce! São 85 anos de pura simpatia e alegria de viver! O sentimento que ela expressa pelo Colégio Piracicabano e pela sua família, em especial, ao seu falecido marido, é algo indescritível. Foram 35 anos de Colégio, mas o amor pelo mesmo não possui limite de tempo.






                                         VERA LÍGIA CARVALHO

Filha de nossa querida Vó Mirce, Vera Lígia teve muita coisa para contar sobre o Colégio Piracicabano. Afinal de contas, está presente nesta história desde quando tinha apenas 1 ano de idade. Passou de aluna à professora e há dois anos se aposentou como coordenadora de educação infantil. Que vida, não é mesmo? E foi com esse leque de experiências que Vera Ligia disponibilizou um tempinho para nos contar sobre sua tragetória no Colégio.










Confiram e se apaixonem com a entrevista na íntegra com Vó Mirce:




Confiram também a entrevista na íntegra com Vera Lígia:






Créditos:

- Colégio Piracicabano
Texto: História
Imagens: Símbolo (Autoria: IHGP); Colégio Piracicabano Antes (Autioria: IHGP); Colégio Piracicabano Atual (Autoria: UNIMEP)

- Martha Watts
Texto: História
Imagem: Martha Watts (Autoria: Acervo histórico da FaTeo)

- Centro Cultural Martha Watts
Imagem: Centro Cultural Martha Watts (Autoria: Rodrigo Alves)

- Restauração do Centro Cultural Martha Watts
Imagens: (Autoria: Marcelo Cachioni)

Apoio:
- TV Câmara de Piracicaba
- TV USP
- Instituto de Pesquisas e Planejamento de Piracicaba - IPPLAP
- Secretaria Municipal de Ação Cultural - SEMAC
- Museu da Imagem e do Som de Piracicaba - MISP
- Faculdade de Comunicação Social - Facom Unimep



Agradecimentos:
Rosangela Camolese, Raul Rozados, Marcelo Cachioni e Marisa Libardi.
















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